terça-feira, 15 de março de 2011

Elefante branco da floresta

Sem um futebol que atraia público em Manaus, Arena Amazônia é apontada por relatório do TCU e especialistas como séria candidata a subutilização após as partidas do Mundial
Orçada em R$593 milhões e com um custo anual de manutenção de R$5 milhões, a Arena Amazônia, nome dado ao estádio de futebol de Manaus para a Copa do Mundo de 2014, pode ficar sem utilidade após o evento. É o que aponta um relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) e o que defende a maioria dos especialistas na cidade. Um verdadeiro "elefante branco" dando boas-vindas à Amazônia.
Com oito clubes de futebol na Série A do estado e apenas dois na Série B regional, os jogos do futebol amazonense reúnem em média de 800 a 4 mil pagantes por jogo, com ingressos em torno de R$4 a R$13. Para a Copa, a Arena Amazônia deverá ter mais 40 mil assentos: "Observa-se, portanto, que o risco associado à construção de "elefantes brancos" nas cidades do Grupo 3 pode ser considerado alto", diz o relatório do TCU, que, além de citar Manaus, também lembrou que a situação poderá afetar Cuiabá (MT) e o Estádio das Dunas, em Natal (RN).
95% de demolição
O atual Estádio Vivaldo Lima, que dará espaço à Arena Amazônia, teve 95% de sua estrutura demolida, informou o secretário de Esportes, Juventude e Lazer (Sejel), Júlio César. Segundo ele, o material da demolição será reutilizado no projeto da arena e em outras obras na cidade.
O concreto será usado para a construção das estruturas de fundação e sustentação da nova arena. O barro, a grama e areia retirados serão reaproveitados no entorno do complexo esportivo. Já as cadeiras e toda estrutura elétrica serão doadas para 32 municípios do Amazonas.
Pelo projeto da obra, a Arena Amazônia terá dois pavimentos: o primeiro comportará 25 mil torcedores e o outro terá capacidade para 22 mil, totalizando 47 mil torcedores no novo estádio. Entre o piso superior e o inferior serão construídos dezenas de camarotes, áreas para imprensa e autoridades. O projeto segue os mesmos critérios adotados nos estádios da África do Sul, como o Soccer City, palco da abertura e da final do Mundial de 2010.
Para o engenheiro civil Adonias Silveira, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), a demolição do estádio Vivaldo Lima e a construção da arena foi um grande erro:
- Um estádio com uma história de quase 30 anos não deveria ter acabado assim. Penso que a antiga estrutura poderia ter sido reaproveitada e muito dinheiro economizado.
Palco para shows
O secretário de Planejamento e Desenvolvimento Econômico do Amazonas (Seplan), Marcelo Lima Filho, defende a obra da arena, dizendo que o local será usado para diversos eventos e não só a promoção do futebol amazonense. Ele disse que a arena pode se palco para grandes shows.
- A Arena Amazônia dará uma infraestrutura apropriada para os artistas que desejarem ter a nossa região como pano de fundo dos seus espetáculos - explicou.
Também pesa contra a construção da Arena Amazônia suspeitas de superfaturamento da obra apontadas pelo Tribunal de Contas da União e pelo Ministério Público Federal (MPF). Os dois órgãos constataram que dos R$593 milhões orçados para a obra, pelo menos R$63 milhões apresentaram preço acima da média na aquisição de materiais de construção. As suspeitas fizeram com que o BNDES suspendesse o empréstimo de R$400 milhões para a construção, mas o governo começou as obras com recursos do Tesouro Nacional.


O Globo de 15/03/2011

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